Bom dia à audiência, muito bom dia à mesa!
Eis chegado o momento de finalizar o ano reunindo, mais uma vez, os profissionais de Informação Turística. Cabe-me o privilégio, em nome da comissão científica e da organização do Congresso Nacional de Informação Turística, de abrir os trabalhos da oitava edição do CNIT.
Agradecemos e damos as boas vindas à mesa, à audiência, colegas guias-intérpretes, estudantes de Turismo, investigadores e académicos, muito obrigada a todos por terem vindo!
Permitam-me umas breves palavras que justificam a escolha de Lisboa e do Vale do Tejo para a localização do CNIT em 2022.
Os nossos congressos têm por lema celebrar uma efeméride de relevância para a boa performance da actividade profissional de quantos aqui se reúnem e, assim sendo, temos percorrido o território, em locais tão distintos como Miranda do Douro, Coimbra, Batalha ou Évora. Mesmo em anos de pandemia não deixámos de ter o nosso congresso por via remota, on-line e, em 2021, de nos deslocar a Beja.
Contudo, ao contrário de algumas edições, 2022 apresentou-se extremamente profícuo em efemérides, desde os 500 anos da morte de Abraham Zacuto (1522), os 100 anos do nascimento de José Saramago (1922), os 100 anos da primeira travessia área do Atlântico Sul (1922), os 200 anos da Independência do Brasil (1822), os 200 da primeira constituição portuguesa (1822), entre outras, e quaisquer destes acontecimentos e as suas consequências, são passíveis de serem abordados no decurso das nossas actividades profissionais. Mas não estando estas efemérides cingidas a uma determinada área geográfica, mas pulverizadas por muitas, eis senão quando, o local para a realização do CNIT se tornou algo complicada. Idealmente, e por maioria de razão, iriamos todos ao Brasil.
Sendo assim, e por as efemérides mencionadas abrirem perspectivas de abordagens inovadoras e assaz interessantes à interpretação do património nas áreas do Turismo Literário, Militar e Científico, e a este propósito aguardamos com elevada expectativa a comunicação da nossa key note speaker, Dra. Graça Joaquim, subordinada ao tema do Congresso «Os Turismos que nos Unem», e não sendo uma opção menor, muito pelo contrário, escolhemos aceder ao convite da Base Naval do Alfeite, através da Academia da Marinha, com a qual mantemos excelentes relações, para fazer decorrer o dia de amanhã na Escola Naval, e o dia de hoje nestas belíssimas instalações da Universidade Lusófona, instituição à qual a Informação Turística muito deve, e pelo qual estamos muito gratos.
O que nos leva a abordar o tema da formação, que todos vós sabem, nos é muito caro. Desde há precisamente 11 anos, altura em que as profissões de Informação Turística foram desreguladas, que se instaurou a confusão: Entre a nomenclatura: será guia turístico? Ou guia-intérprete? Entre aqueles que estão seriamente na profissão, e aqueles outros que lêem umas coisas da Wikipédia, entre o que é a Gestão, a Promoção, a Animação e a Informação Turística, áreas distintas, mas que, por alguma razão desconhecida para nós, se teima em confundir. E dentro da Informação Turística, as competências de um Guia e de um Correio de Turismo, que também parecem obscuras para vários decisores.
A nosso ver, só existe uma fórmula para se ser um bom profissional e almejar ser um profissional de excelência, e essa fórmula é a Formação , e dentro desta, a formação específica para os diversos sectores. Falamos tanto da formação inicial, como também daquela outra ao longo da vida, em que em muitas áreas se convencionou chamar formação de activos. Como em muitas profissões, as nossas actividades estão em continua mudança, tanto nas chamadas hard skills como em soft skills, ou por outras palavras, na produção académica e na técnica. Ambas são, no nosso caso, de extrema importância. Não é por acaso que a União Europeia preconiza para a formação inicial, que esta seja repartida 60% em ambiente de aulas em sala, e 40% de aulas práticas, no exterior. São estes os profissionais, que seguem este modelo, a que investigadores em vários continentes dedicaram uma produção académica muito substantiva, que fidelizam clientes às empresas, atraem visitantes aos diversos equipamentos culturais, e ao país no seu todo, através de um método muito eficaz, o passa-palavra, interagem com gerações, nacionalidades e actividades profissionais múltiplas dentro dum quadro de ética, que não pode ser esquecido e, no final, transformam viagens em memórias duradoras. Posto isto, continuamos perplexos por não haver uma obrigatoriedade legal para um profissional de Informação Turística ser formado para tal, e se considerar que a Interpretação do Património pode ser feita ao calhas.
Pelas 14:00 de hoje subirá a esta tribuna o Dr. João Neto, director do Museu da Farmácia e presidente da APOM – Associação Portuguesa de Museologia, que nos trará uma conferência subordinada ao tema «Credenciação Profissional, um pilar fundamental para garantir qualidade na Cultura» e, imediatamente a seguir ao coffee break desta manhã, teremos a apresentação pela Filipa Mata da sua tese de mestrado, «A percepção dos decisores do turismo sobre o papel dos guias-intérpretes como stakeholders: o caso português», que nos poderão elucidar e dar pistas de orientação sobre este tema.
Para finalizar, queremos enviar uma especial saudação a todos aqueles que, mesmo sabendo que na prática, na última década, se assiste a uma constante desvalorização das profissões de informação turística, continuam a levar muito a sério o papel de mediador cultural que lhes assiste e apostam na Formação especifica para a área, e a todas as Instituições de Ensino, entre elas esta Casa, que sem embargo da realidade destrutiva a que se assiste, continuam a formar profissionais de IT de excelência.
Esperamos que estes últimos anos possam ter potenciado um momento de reflexão e o renascimento de uma cultura de qualidade e excelência. Que a prática turística possa decorrer de uma forma estudada e minimamente regulada. Sabemos todos que esta é a fórmula para uma para atividade turística duradoura, que beneficia as comunidades que residem e trabalham nos territórios, e quem os visita, e que sempre tem sido a forma de operar defendida pelos profissionais de informação turística.
Para tal aqui nos encontramos, para refletir sobre o futuro do Turismo e da profissão, e fazer aquilo que os guias-intérpretes mais gostam, aprender e para depois partilhar. Um bom congresso a todos!
Cristina Leal