Dada a impossibilidade de estar presente no VIII Congresso Nacional de Informação Turística, o Director da Fundação José Saramago, Sérgio Machado Letria enviou-nos uma comunicação para a abertura do congresso.
A Leitura da comunicação foi feita pela Guia-Intérprete Amélia Custódio.
Saudação
VIII Congresso Nacional de Informação Turística CNIT2022
Na impossibilidade de estarmos fi sicamente presentes na abertura do VIII Congresso Nacional de Informação Turística CNIT2022, não queremos deixar de enviar uma saudação aos organizadores do Congresso, aos seus participantes e a todos os presentes.
A Fundação José Saramago tem desenvolvido desde há alguns anos um trabalho que procura associar turismo e literatura. Em 2009, por vontade de José Saramago e de Pilar del Río avançámos Portugal adentro seguindo aqueles que teriam sido os passos do elefante Salomão, o de A Viagem do Elefante, em território português, naquela que acabou por ser a última grande viagem do Prémio Nobel português pelos caminhos do país que o viu nascer. Nessa viagem chamámos a atenção para o interior de Portugal, tantas vezes esquecido e tão rico nas suas manifestações culturais e nas suas gentes. E recordámos também a Viagem a Portugal de José Saramago, que hoje, cem anos após o nascimento do Escritor, ganhou novas vidas com o apoio do Turismo de Portugal ou da RTP, através de um site que cruza as palavras de Saramago com as de José Luís Peixoto e de autores estrangeiros, e de uma série de televisão que percorreu o nosso país de lés a lés pelos olhos do actor brasileiro Fábio Porchat. Em cada um destes projectos, e nos outros que entretanto nasceram sob a forma de rotas e roteiros literários, como os de Memorial do Convento, Levantado do Chão ou do Caminho de Salomão, que contam com o nosso apoio, os mesmos objectivos, o de cruzar literatura e turismo, o de identificar oportunidades turísticas a partir de obras literárias, o de levar quem nos visita a percorrer o país e a não contribuir para o centralismo de Lisboa e Porto, portas de entrada e destinos finais de tantos que nos visitam.
A riqueza de um país mede-se não apenas pelas métricas financeiras, mas também pela capacidade de não perder as suas marcas culturais, de fazer delas pontos de contacto com outras e outros de diferentes origens. E se o turismo é fundamental para o nosso país, importa que diferentes formas de o fazer sejam desenvolvidas e encorajadas. O turismo literário é uma delas, partindo das obras de diferentes autores, que com o seu olhar permitiram que conhecêssemos melhor a nossa terra e que os que nos visitam fiquem a conhecer este país extraordinário.
Como escreveu José Saramago no final de Viagem a Portugal, “É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.” Sigamos este roteiro que Saramago nos propõe e façamos de um turismo respeitador da nossa identidade cultural, e não da transformação gratuita e globalizante para agradar a quem nos visita, uma forma de encorajar o viajante a vir pela primeira vez e a recomeçar a viagem. Sempre.
Muito obrigado.
Lisboa, 15 de dezembro de 2022
Sérgio Machado Letria Director da Fundação José Saramago